Parecer técnico de secretaria da Aneel informa haver risco em escoamento por falta de linhas de transmissão
Paraísos dos parques eólicos, o Norte e o Nordeste ameaçam o sistema elétrico com risco de panes diante do descompasso entre investimentos em geração e nas linhas de transmissão necessárias para o escoamento dessa energia para os polos consumidores.
É o que afirmam técnicos da Secretaria de Inovação e Transição Energética da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em um parecer sobre o despacho de energia da Termelétrica de Portocém I, no Ceará.
Linhas de transmissão de energia em fazenda de café em Santo Antônio do Jardim (SP) – Paulo Whitaker /REUTERS
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O alerta, dado há um ano, revela uma sobrecarga nas linhas de transmissão disponíveis diante do crescimento dos projetos de geração até 2029, quando ficam prontas as novas linhas.
Até lá, escrevem os técnicos da Aneel, cerca de 1.400 novas unidades geradoras fotovoltaicas devem entrar em funcionamento.
“Mesmo sem a presença da UTE Portocém I, poderá ocorrer sobrecarga na LT 230 kV Piripiri-Ibiapina, quando da contingência [falha] da LT 230 kV Piripiri-Marangatu”, diz o parecer. “O despacho da geração da UTE Portocém I, embora não seja a causadora, agravará a citada sobrecarga.”
Desde 2021, a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) avisa que é preciso investir em novas linhas de transmissão.
A empresa chinesa Spic, maior do mundo quando o assunto é geração de energia solar, acaba de estrear nesse segmento no Brasil com a inauguração de dois empreendimentos no Nordeste.
Os recentes leilões de transmissão da Aneel atenderam a esse apelo, mas só devem estar energizadas, como se diz no jargão do setor, em 2029.
Por isso, os técnicos apontam um risco associado ao escoamento da energia gerada na região Norte e Nordeste.
Existem 53 unidades geradoras de energia solar em construção no Nordeste. O maior desses empreendimentos é o complexo Assú Sol, no Rio Grande do Norte , da multinacional francesa Engie.
Há outras 1.799 unidades com projetos aprovados pela Aneel, mas sem obras em andamento. Ao todo, a capacidade a ser instalada soma mais de 77 GW de potência.
Das unidades geradoras fotovoltaicas cujas obras ainda não foram iniciadas, a grande maioria delas (1.438 ou 80%) preveem licença de operação antes de 2029.
Consultada, a Aneel não respondeu até a publicação desta reportagem.