Ferramenta da agtech combina IA e gamificação e cria réplica da lavoura no espaço virtual para simulações e detecção de problemas
E se fosse possível prever os resultados da próxima safra? É isso que a Solinftec, agtech brasileira cotada para se tornar o primeiro “unicórnio” do agro nacional, pretende transformar em realidade. E os primeiros movimentos para atingir o objetivo acontecem na fazenda de testes da empresa, localizada em Araçatuba, no interior paulista.
À reportagem, Leonardo Carvalho, diretor de estratégia global da companhia, revela que o processo envolve os chamados “gêmeos digitais”, ferramenta em desenvolvimento pela Solinftec desde 2022. O conceito não é uma novidade. Na década de 1960, a agência espacial americana (NASA) já utilizava uma ferramenta semelhante, apelidada de “modelo vivo”, em suas missões.
No entanto, é com a integração das tecnologias disponíveis na indústria 4.0 que os gêmeos digitais ganham um novo grau de eficiência, principalmente para o agronegócio, segundo ele. Isso porque resultam em uma ferramenta que une inteligência artificial (IA), gamificação e agricultura de precisão.
De acordo com Carvalho, a nova ferramenta funciona assim: as informações da área de plantio e do solo, obtidas pelo Solix Ag Robotic (o robô desenvolvido pela agtech) ou qualquer outra máquina habilitada, são enviadas para um software, assim como detalhes sobre os cultivos, insumos e maquinários e implementos disponíveis na fazenda.
Com isso, o sistema, que já conta com uma base de informações sobre a eficiência dos dispositivos, processos, clima, rastreabilidade e logística, cria um gêmeo digital da lavoura, ou seja, uma réplica idêntica do objeto físico no espaço virtual.
A promessa é ter um ambiente controlado para realizar operações, fazer testes de equipamentos, insumos, produtos, detectar falhas, reduzir danos e, claro, prever resultados. Assista ao vídeo para ver um robô sendo testado no gêmeo digital da fazenda da Solinftec no site https://globorural.globo.com/negocios/noticia/2024/07/solinftec-quer-prever-o-futuro-com-gemeos-digitais-nas-lavouras.ghtml.
“Essa tecnologia permite pegar um campo real, de qualquer produtor do mundo, para simular diferentes manejos e entender a eficiência de cada um dos cenários considerando todas as variáveis, inclusive o clima”, afirma Carvalho, que vê os gêmeos digitais como uma oportunidade de aumentar a produtividade das lavouras.
Ao oferecer relatórios, análises e sugestões de manejo por meio do software, a Solinftec busca facilitar as tomadas de decisões, tornando-as mais assertivas, precisas e sustentáveis, diminuindo o desperdício de químicos, insumos e recursos hídricos.
“Podemos transformar cada terreno em um laboratório. As simulações vão nos auxiliar a entender como aumentar cada vez mais a produtividade e ainda acelerar o desenvolvimento de produtos, como novas sementes e insumos biológicos com adaptação à mudança climática”, reforça Britaldo Hernandez, CEO da Solinftec.
A primeira apresentação pública do conceito está prevista para acontecer em agosto, durante a Farm Progress Show, em Illinois, nos Estados Unidos. Para o início do próximo ano, antes de disponibilizar o serviço, a Solinftec planeja desenvolver projetos-pilotos com produtores de grãos.
O mercado global de gêmeos digitais, estimado em US$ 10,1 bilhões em 2023, deve alcançar US$ 110,1 bilhões até 2028, segundo levantamento da indiana Market and Markets. Mas há desafios, segundo a consultoria.
Os principais são a falta de mão de obra qualificada e a necessidade de conscientização dos consumidores quanto ao custo-benefício desses equipamentos nas propriedades. Na avaliação dos executivos da Solinftec, porém, a sucessão familiar e a implementação da IA e outras tecnologias no campo devem alavancar a mudança de posicionamento e acelerar a adaptação do setor.
Em relação ao custo, Carvalho afirma que o gêmeo digital será acessível e poderá ser implementado tanto pelo grande quanto pelo pequeno produtor. “Ele foi desenhado, assim como os nossos robôs, para devolver o investimento já no primeiro ano de utilização. É uma tecnologia que vai aumentar a produtividade e ainda dar retorno”, promete.
