Fazendas de MG, PR e SP são eleitas as mais sustentáveis do Brasil

Conheça as propriedades que ficaram nas três melhores colocações no Prêmio Fazenda Sustentável entre grandes, médias e pequenas

Propriedades rurais do Paraná, Minas Gerais e São Paulo foram eleitas nesta terça-feira (17/9) as mais sustentáveis do Brasil. O trabalho desses produtores foi reconhecido na oitava edição do Prêmio Fazenda Sustentável, em São Paulo.

Cerimônia de entrega do 8º Prêmio Fazenda Sustentável teve a participação, por videoconferência, do ex-diretor geral da Organização Mundial do Comércio, embaixador Roberto Azevêdo — Foto: Marcos Fantin/Globo Rural
Cerimônia de entrega do 8º Prêmio Fazenda Sustentável teve a participação, por videoconferência, do ex-diretor geral da Organização Mundial do Comércio, embaixador Roberto Azevêdo — Foto: Marcos Fantin/Globo Rural

As fazendas foram premiadas em três categorias. Entre as grandes, o primeiro lugar ficou com a Jaracatiá, de Querência do Norte (PR), com 1,013 mil hectares de área produtiva e 314 preservados. O local produz plantas aromáticas e medicinais, além de óleos essenciais. E tem a pecuária como complementar.

Em matéria de produção sustentável, a Jaracatiá destacou-se pela preservação de mata nativa por meio de uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN). Também implantou energia solar fotovoltaica, gestão de irrigação e aproveita totalmente a produção vegetal.

A propriedade tem ainda um sistema de destinação correta de resíduos. Na parte econômica e social, pesaram a favor na classificação a presença de conexão de internet nas casas de todos os funcionários, geração de empregos com processos industriais e desenvolvimento de maquinário.

“Só de estar no meio de vocês, já é uma vitória”, disse Maurício Garcia, proprietário da fazenda, dirigindo-se aos demais homenageados no evento. “Agracedemos à revista Globo Rural e seus apoiadores. Agradecemos também os nossos funcionários, nosso clientes, fornecedores e todos em nosso entorno”, acrescentou.

Fazenda Jaracatiá, primeiro lugar entre as grandes propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Sergio Ranalli
Fazenda Jaracatiá, primeiro lugar entre as grandes propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Sergio Ranalli

O segundo lugar entre as grandes propriedades ficou com a fazenda São Manoel, localizada no município de mesmo nome, no interior de São Paulo. São 1.293,7 hectares de área produtiva de cana-de-açúcar e fruticultura, como atividade complementar. A parte reservada soma 262,1 hectares.

A fazenda possui certificações Bonsucro, RenovaBio e Etanol Mais Verde. Destacou-se da realização de controle biológico de pragas, uso de insumos naturais para adubação, como torta de filtro e vinhaça, além da criação de um corredor ecológico, monitoramento da fauna da região e área de soltura de animais resgatados.

“Quero agradecer a todos os colaboradores. Sem o empenho deles, não conseguimos alcançar os nossos objetivos. A gente consegue sim fazer o econômico junto com o ambiental e o social. É possível sim colocar os três pilares em pé”, disse Silvio Nicoletti, proprietário da fazenda.

Fazenda São Manoel, segundo lugar entre as grandes propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Ricardo Benichio
Fazenda São Manoel, segundo lugar entre as grandes propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Ricardo Benichio

Em terceiro lugar na categoria grandes propriedades, ficou a Fazenda Curucaca, localizada no distrito de Entre Rios, em Guarapuava (PR). A área produtiva soma 1.265 hectares dedicados ao plantio de grãos. As áreas preservadas somam 224,2 hectares de Área de Preservação Permanente (APP) e outros 133,6 de Reserva Legal (RL).

A propriedade possui diversas certificações ligadas à sustentabilidade de sua produção, como a RTRS (Associação Internacional da Soja Responsável) e a do programa de gestão rural da Cooperativa Agrária.

Na área social, destacou-se pela realização de pelo menos 13 iniciativas voltadas aos funcionários. Na área ambiental, além de um sistema produtivo baseado na técnica do plantio direto, a fazenda realiza controle de resíduos da lavagem de máquinas agrícolas, captação e reaproveitamento de área da chuva e utiliza energia solar. E na área econômica, adota sistemas de gestão.

“O agronegócio brasileiro é o mais sustentável do mundo. De fato, que nós saibamos nos comunicar melhor. O agronegócio ainda é muito mal visto no meio urbano. Não é conhecido por todos os brasileiros, o que é lastimável, porque a gente faz um trabalho bonito, rico e sustentável”, disse Tábata Stock, proprietária da fazenda.

Fazenda Curucaca, terceiro lugar entre as grandes propriedades no 8° Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Henry Milleo
Fazenda Curucaca, terceiro lugar entre as grandes propriedades no 8° Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Henry Milleo

Médias propriedades

Entre as médias propriedades rurais, a fazenda mais sustentável do Brasil em 2024 é a Recanto, localizada em Patos de Minas (MG). Com 240 hectares de área produtiva e 170 preservados, dedica-se à cafeicultura e suinocultura. Como atividade complementar, investe na produção de compostagem, biofertilizantes e biometano.

A produção tem certificações como a Rainforest Alliance, Carbon Track, Certifica Minas e Regenagri. A Fazenda Recanto adota um sistema produtivo com o uso de plantas de cobertura, irrigação de precisão e economia circular, com reaproveitamento dos dejetos para a produção de bioinsumos.

“Importante ser parte do que a gente espera ser inspiração. A gente precisa pensar o país de forma diferente. A gente fala de pessoas sustentáveis, mas precisamos de pessoas sustentáveis. Eu sinto que, em muitos ambientes, eu sou muito julgado como produtor rural. E, muitas vezes, quem julga não nos conhece. Vamos conhecer o agro e ver o que está acontecendo lá”, disse Claudio Nasser, presidente do ecossistema Auma Negócios, do qual a Recanto faz parte.

Fazenda Recanto, vencedora entre as médias propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Thiago de Jesus
Fazenda Recanto, vencedora entre as médias propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Thiago de Jesus

Em segundo lugar na categoria ficou a Fazenda Água Limpa, em São João do Manhuaçu (MG), uma propriedade com 240 hectares de área produtiva e 100 hectares preservados, onde se produz, principalmente, café arábica orgânico, e frutas como atividade complementar.

A produção tem certificações como a Rainforest Alliance, 4C, JAS e Ecocert. Destacou-se na avaliação do Fazenda Sustentável pelo reaproveitamento da água, compostagem, separação do lixo, controle biológico de pragas e geração de energia foto voltaica.

“A gente produz organicamente. É viável, é possível. Tem que acreditar que esse é o caminho”, afirmou o proprietário da Água Limpa, Ednilson Alves Dutra. “Esse prêmio é muito importante para nós”, acrescentou.

Fazenda Água Limpa, segundo lugar entre as médias propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Washington Alves Ribeiro
Fazenda Água Limpa, segundo lugar entre as médias propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Washington Alves Ribeiro

A terceira fazenda mais sustentável do Brasil entre as médias é a Lagoinha, localizada em Carmo da Cachoeira (MG). Com 100 hectares de área produtiva e 62 preservados, tem como principal atividade a produção de cafés especiais, aqueles qualificados como de alta qualidade.

Entre as certificações obtidas pela propriedade, estão Rainforest Alliance, Renegagri, Certifica Minas, Nespresso e Starbucks. Entre as práticas sustentáveis, destacam-se a utilização de agricultura regenerativa, polinização assistida, corredores ecológicos, revitalização de açudes e nascentes, treinamento contínuo de funcionários e participação de mulheres em cargos de liderança e gestão da atividade.

“A gente vem de um triênio difícil na cafeicultura. Pegamos a seca histórica, a geada histórica e o granizo histórico. Isso fez a gente repensar muito no sul de minas e partir para o renegativo. E não adianta ser regenerativo se não multiplicar o que a gente faz. O caminho é crescer com as próprias pernas e ajudar a multiplicar as pernas dos outros”, disse Kadu Cunha, sócio da fazenda.

Fazenda Lagoinha, terceiro lugar entre as médias propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Washington Alves Ribeiro
Fazenda Lagoinha, terceiro lugar entre as médias propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Washington Alves Ribeiro

Pequenas propriedades

Nas pequenas propriedades, a mais sustentável do país em 2024 é a Fazenda Três Meninas, onde se produz café arábica, em Monte Carmelo (MG). São 40 hectares de áreas produtiva e 14 preservados.

Com certificação Rainforest Alliance, o sistema produtivo se destaca pelo sistema agroflorestal, reuso de água, uso de energia solar e de bioinsumos. Também há utilização de plantas de cobertura e árvores nativas além de polinização assistida. Os proprietários também realizam trabalho voluntário.

“Tem muita gente dentro deste prêmio. Não é só esta família. Temos muita gente conosco, nossa equipe, consultores que trabalham com a gente. Todos os que passaram pela fazenda fazem parte desse prêmio”, disse Ana Paula Urtado, proprietária da fazenda. Temos orgulho quando nosso trabalho tem um impacto positivo na sociedade, no ambiente, e a gente ainda obter lucro do nosso trabalho”, acrescentou Marcelo Urtado, marido de Ana Paula e sócio da propriedade.

Fazenda 3 meninas, vencedora entre as pequenas propriedades do 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto:  Anna Carolina Negri/Editora Globo
Fazenda 3 meninas, vencedora entre as pequenas propriedades do 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Anna Carolina Negri/Editora Globo

Na segunda colocação, ficou a Fazenda São Geraldo, em Batatais (SP). O local é especializado na produção de mudas de cana-de-açúcar. Também fabrica cachaça e tem criação de aves de corte. Tudo em uma área produtiva de 3,4 hectares e uma preservada de 1,6 hectare.

Com certificações de produção orgânica e de contabilidade ambiental positiva, a fazenda se destacou pela produção que não usa produtos químicos, pelo aproveitamento dos resíduos, preservação de nascentes e captação de água de chuva.

“Eu agradeço ao meu marido, que me deu a oportunidade de trabalhar na terra, e pelo meu filho. E agradeço a Deus, porque tudo o que está na nossa mão é emprestado e temos a obrigação de devolver melhor do que encontramos”, disse Laura Vicentini, proprietária da fazenda.

Fazenda São Geraldo, segundo lugar entre as pequenas propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Ricardo Benichio
Fazenda São Geraldo, segundo lugar entre as pequenas propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Ricardo Benichio

A terceira fazenda mais sustentável do Brasil entre as pequenas é a Café Campo Místico, de Bueno Brandão (MG). A atividade principal é a produção de café em sistema agroflorestal. A meliponicultura e o turismo rural surgem como atividades complementares.

São cinco hectares de área produtiva e três preservados. Na avaliação do Prêmio Fazenda Sustentável, a propriedade se destacou pela agricultura regenerativa, criação de espécies de abelha com risco de extinção, preservando-as, além da participação no comércio local e em projetos sociais.

“ Quero citar aqui uma frase da Ana Primavesi, que baliza o nosso trabalho: ‘solo sadio, planta sadia, alimento sadio, ser humano sadio”, disse Valmor Oliveira dos Santos Filho, sócio-proprietário da Campo Místico, ao agradecer pela premiação, citando a engenheira agrônoma considerada uma das prioineiras da Agroecologia no Brasil.

Fazenda Camppo Místico, terceira colocada entre as pequenas propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Henrique Grandi
Fazenda Camppo Místico, terceira colocada entre as pequenas propriedades no 8º Prêmio Fazenda Sustentável — Foto: Henrique Grandi

Reconhecimento às boas práticas

A 8ª edição do Prêmio Fazenda Sustentável recebeu quase 100 inscrições de propriedades rurais de todas as regiões do Brasil. Após a primeira triagem, 50 avançaram para a segunda fase. Entre os critérios avaliados para a escolha das fazendas está o cumprimento às leis ambientais em conjunto aos direitos trabalhistas e à saúde financeira do negócio.

O Fazenda Sustentável tem patrocínio da Cargill e da TIM e metodologia desenvolvida e aplicada por Rabobank e Imaflora. A premiação deste ano demonstra que o aprofundamento da conexão do homem com a natureza é a chave para se chegar à verdadeira sustentabilidade na produção agropecuária.

As novas tecnologias têm sido adotadas por um grupo cada vez maior de produtores, preocupados em aliar uma agricultura mais produtiva e rentável com sustentabilidade. As histórias das propriedades inscritas incluem controle biológico, sistemas regenerativos, bioinsumos e agricultura digital.

Além disso, há uma variedade de tecnologias aplicadas no dia a dia, como imagens de satélites para monitoramento da lavoura, drones para aplicações de defensivos e blockchain no rastreamento de produtos.

Na abertura do evento, o editor executivo da Globo Rural e comentarista da Rádio CBN, Cassiano Ribeiro, destacou que a razão do Prêmio Fazenda Sustentável existir é o bom trabalho dos produtores rurais em todo o país.

“Muitos de vocês já fazem um trabalho que tem um reconhecimento. Internacional, inclusive. Este prêmio tem a intenção de ser uma credencial a mais. Vocês são, mais do que nunca, embaixadores da sustentabilidade. O Brasil precisa pautar mais o mundo”, disse.

O líder comercial da Cargill, Renato Teixeira, destacou que o reconhecimento de práticas sustentáveis na agropecuária é “importante e digno” para o país. “Parabéns a todos que estão aqui e, mais do que nunca, sucesso no desenvolvimento de todas as práticas.”

Nilton Cesar de Águila, Senior Manager Key Accounts da TIM, afirmou que, atualmente, a cobertura de internet da empresa alcança 17 milhões de hectares no país. “Encontramos no agro um cenário de muita tecnologia e pouca conectividade. Essa premiação tem tudo a ver com o nosso propósito de agregar conectividade para o agronegócio”

A diretora-executiva da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Gislaine Balbinot, defendeu que o agro brasileiro deve estar preparado para mostrar o quanto é sustentável. Em sua avaliação, o país vem passando por uma nova “revolução verde” no campo, e está “no caminho certo”.

“A Globo Rural viu isso lá atrás e vem fazendo um trabalho brilhante. Temos grandes produtores, médios e pequenas propriedades que fazem um trabalho espetacular”, ressaltou.

Diógenes Kassaoka, sub-secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, destacou a importância do agronegócio no suporte às políticas públicas. Citou como exemplo a participação do setor de açúcar e etanol no gabinete de crise para combate aos incêndios e queimadas que atinge áreas rurais do Estado.

“É importante mostrar esse agro que é importante para a segurança alimentar, que vai liderar a transição energética e que se mostrou resiliente nesse período de mudanças climáticas”, observou.

Ex-secretário de Agricultura e São Paulo e coordenador da Rede ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), Francisco Maturro, afirmou que a agropecuária se faz com ciência, tecnologia e com o trabalho dos produtores rurais. E que o Brasil domina a atividade agrícola em regiões de clima tropical.

“No passado, fazíamos a queima controlada, quando não se dominava a tecnologia. A última queimada de cana do Estado de São Paulo foi em 2014. Hoje, queimada na cana é prejuízo na veia”, pontuou, alertando que a próxima safra de cana já está comprometida por causa do fogo que atingiu milhares de hectares de lavouras da cultura.

Fonte: https://globorural.globo.com/especiais/fazenda-sustentavel/especial/fazendas-de-mg-pr-e-sp-sao-eleitas-as-mais-sustentaveis-do-brasil.ghtml