Conheça a multifazenda de Mato Grosso que aproveita tudo que produz

A Mano Julio tem plantio de soja, milho e algodão, criação de suínos, bovinos e aves, além de biofábrica, biodigestor e termelétrica

Há 45 anos, o agricultor Marino José Franz chegou à região de Lucas do Rio Verde (MT) com 18 anos vindo do Sul do país numa viagem de oito dias de ônibus. Como mala trazia um saco de adubo. Hoje, ele comanda a multifazenda de aproveitamento circular Mano Julio, que tem 16 mil hectares de agropecuária na área total de 32 mil hectares.

Na sede em Lucas e nas seis fazendas satélites em Nova Mutum são plantados no total 20 mil hectares de soja, 16 mil de milho e 9,3 mil de algodão. A Mano Julio tem também criação de suínos, bovinos, produção de frangos e ovos, uma biofábrica para produção de biológicos para suas lavouras e uma termelétrica com capacidade de 1,3 megawatts que consome o biogás produzido com os dejetos dos suínos. A energia gerada supre as necessidades das granjas de suínos e do confinamento bovino.

“Temos na Mano Julio um aproveitamento circular de tudo que é produzido. O confinamento gera esterco para as lavouras, as aves produzem o adubo da cama aviária, os dejetos dos suínos se tornam energia, a algodoeira gera o caroço e o capulho para acrescentar na ração dos animais e até os bovinos que morrem viram adubo em 15 dias”, diz Osvaldo Araújo, gerente-executivo da Mano Julio e genro de Marino. O nome da fazenda é uma homenagem ao irmão do agropecuarista, que já faleceu.

Segundo ele, a sustentabilidade também tem alicerce em áreas de reflorestamento, todas as nascentes são protegidas e o gado só bebe água em bebedouros, sem acesso às águas dos rios.

Além de agropecuarista, Marino também é dono de algodoeira, da Fiagril, empresa de insumos e assistência técnica, e acionista da FS, companhia de capital americano que produz etanol de milho em três unidades no Estado.

Aliás, com seu espírito empreendedor, foi Marino quem visitou Iowa, nos Estados Unidos, para convencer o Summit Agricultural Group, focado em soluções de agricultura sustentável, a ser o pioneiro na instalação de usinas de etanol de milho no Brasil.

Algodão

Neste mês, a Mano Julio iniciou antecipadamente a colheita de algodão com oito máquinas próprias que colhem e enfardam os rolos de 2,5 mil quilos que seguem para beneficiamento na algodoeira, que fica a 100 km da área de produção.

Quando a reportagem da Globo Rural visitou a fazenda no início de julho, 260 hectares dos 9.200 já tinham sido colhidos. Nesta safra, a produtividade deve ficar em torno de 290 arrobas por hectare, média baixa devido a dificuldades climáticas.

Leonardo Pacheco, o gerente-executivo da Mano Julio, e Lucas Severo, responsável pelo confinamento — Foto: Eliane Silva
Leonardo Pacheco, o gerente-executivo da Mano Julio, e Lucas Severo, responsável pelo confinamento — Foto: Eliane Silva

Genilson Souza Silva, um lavrador do Maranhão que trabalha na Mano Julio há oito anos, sendo cinco na operação de colheitadeira de algodão, diz que, graças à capacitação, o emprego lhe garante um salário de R$ 3.500 mais as horas extras. “É um bom emprego. Quando é necessário trabalhamos na colheita até às 22h”.

Animais

Segundo Luis Henrique Carvalho, gerente de granjas da Mano Julio, são alojados 100 mil suínos por ano nos oito núcleos de terminação. Os animais chegam com 70 dias e 120 dias depois vão para o abate na unidade da BRF em Lucas do Rio Verde, que fornece os animais, a ração com o farelo de milho úmido produzido pela FS e a assistência técnica.

O grande “pulo do gato” da Mano Julio na produção de suínos foi a instalação de biodigestores que recebem todos os dejetos por gravidade. Além de gerar energia para as granjas e os confinamentos, a fazenda dá destinação para o esterco, urina, desperdícios de água de bebedouros e resíduos de rações que são altamente poluentes.

Metabolizados nos oito biodigestores, os dejetos dos suínos produzem o biogás, que vai para a termelétrica. O descarte líquido é canalizado para três lagoas e se torna biofertilizante na fertirrigação e nos dois pivôs das lavouras.

Paulo Ruppio, supervisor de geração de energia da fazenda, diz que o projeto da termelétrica começou em 2029 com dois geradores, e no ano passado, foi expandido para seis geradores. O plano futuro é aproveitar também os dejetos do confinamento, que podem dobrar a geração de energia.

No confinamento, com cochos cobertos e sistema de refrescamento, passam 25 mil animais 100% rastreados por ano em dois giros. Os bovinos entram com 450 kg a 480 kg e saem com peso de 560 kg a 580 kg.

O farelo de milho úmido representa de 50% a 60% da composição da ração, que tem também caroço e capulho de algodão e sorgo. Cada animal consome de seis a oito quilos de farelo de milho por dia.

Gado no confinamento da Mano Julio — Foto: Duda Saracura/Divulgação Unem
Gado no confinamento da Mano Julio — Foto: Duda Saracura/Divulgação Unem

“Observamos que o gado engorda mais rápido com o farelo úmido e com menor custo. Agora, queremos concretar o piso do confinamento para recolher os dejetos e transformar em energia”, diz Lucas Severo, zootecnista que dirige o confinamento.

Biofábrica

A biofábrica para produção de fungos e bactérias usados nas lavouras para combater cigarrinhas, mosca branca e percevejo e na promoção do crescimento das plantas foi instalada em 2021 na sede da Mano Julio. Produz atualmente 32 mil litros de produtos biológicos que têm um custo de produção de R$ 5 o litro na comparação com os químicos que custam R$ 80.

Tanta economia levou a fazenda a planejar a expansão da biofábrica da sede e a construção de uma outra na região de Nobres, a 200 km de Lucas do Rio Verde.

Biofábrica da Mano Julio produz 32 mil litros de produtos biológicos — Foto: Duda Saracura/Divulgação Unem
Biofábrica da Mano Julio produz 32 mil litros de produtos biológicos — Foto: Duda Saracura/Divulgação Unem

“Além de cortar custos com a produção on farm, estamos criando um equilíbrio na lavoura. Já houve uma redução de 30% no uso de químicos em dois anos, mas o plano futuro é, quem sabe, chegar a 100% de biológicos”, diz o gerente executivo.

Fonte: https://globorural.globo.com/agricultura/noticia/2024/07/conheca-a-multifazenda-de-mato-grosso-que-aproveita-tudo-que-produz.ghtml