Com demissões na Aeris, como está a indústria de energia eólica no Ceará? Entenda

Fabricante de pás eólicas demitiu mais de mil funcionários de planta do Complexo do Pecém

Acompanhando um movimento nacional, a indústria de energia eólica no Ceará deve ver uma redução na produção de turbinas e pás ao longo de 2024, devido à baixa demanda. O cenário já tem impactos, com a demissão de 1.500 funcionários da planta da Aeris Energy, fabricante de pás eólicas, no Complexo do Pecém.

A Aeris anunciou, em março, o fim do contrato com Siemens Gamesa, empresa hispano-alemã de engenharia eólica. A redução do volume de vendas levou à readequação do quadro de colaboradores, segundo nota divulgada nesta segunda-feira (13).

A empresa afirmou que o ano de 2024 representa um desafio no Brasil e projeta que o mercado externo pode atingir cerca de 40% da receita até o próximo ano, com oportunidades em Estados Unidos, Chile, México, Argentina. 

O diretor de Geração Centralizada do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE), Luiz Eduardo Moraes, aponta que a Aeris foi bastante impactada por ter um modelo de negócio de produção específica por contrato, mas que o panorama para instalação de novos parques eólicos é negativo. 

Luiz Eduardo aponta que há um excedente de energia no mercado brasileiro, devido à grande capacidade dos reservatórios hidrelétricos, que bateram níveis de armazenamento em 12 anos. O aumento da geração de energia pela força da água, a maior forma de produção do Brasil, levam a um barateamento da energia no País. Com isso, não há necessidade de instalação de novos parques eólicos. 

Não houve crescimento econômico compatível com o crescimento da geração de energia. A previsão do operador nacional do sistema é que, em 2028, a oferta de energia seja duas vezes maior que a demanda. Então isso faz com que os preços da energia no mercado caiam”

Luiz Eduardo Moraes
Diretor de Geração Centralizada do Sindienergia-CE

O diretor destaca ainda o fortalecimento da geração de energia solar, que tem um valor de investimento cada vez menor. A infraestrutura da geração de energia eólica, por outro lado, é mais elevada e sofre com a variação do preço do dólar, segundo Luiz Eduardo Moraes. 

Por ser um cenário de dificuldade nacional, é difícil novos projetos de produção eólica se concretizem no Ceará, segundo o representante do Sindenergia. O Estado tem três empreendimentos de energia eólica em construção, todos em Icapuí. 

Há outros 69 plantas previstas para instalação no Ceará, mas com construção ainda não iniciada. São 100 parques eólicos em operação atualmente, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

BAIXA DEMANDA DE NOVOS PARQUES EÓLICOS

A cadeia produtiva da indústria de energia eólica deve sentir os efeitos da baixa demanda pelo menos até 2026, projeta a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), Elbia Gannoum. 

Ela ressalta que a geração de energia eólica nos parques instalados segue normalmente, mas que os contratos para construção de novas plantas estão reduzidos há três anos. Mesmo liderando a produção de pás para aerogeradores na América Latina, a Aeris sofreu as consequências do desaquecimento do mercado. 

“Essas empresas funcionam com contratos com intervalo de 2 a 3 anos. Por exemplo, eu vendo hoje em 2024 um contrato para fazer um parque eólico novo. Nos dois anos posteriores, o chão de fábrica está lotado para a produção. A redução de contratos começou a acontecer em 2022 e vai ter consequência até 2026, porque este ano também não estão contratando”, explica a especialista. 

Sem demanda interna, os equipamentos de geração eólica dificilmente podem ser destinados para o mercado exterior, segundo Elbia Gannoum. A presidente da ABEEólica aponta que o maquinário brasileiro não consegue competir com a produção chinesa. 

A mudança de cenário para a indústria de geradores eólicos depende do comportamento geral do mercado energético, ressalta Elbia, mas pode ser viabilizada por melhoria nas condições de financiamento de novos parques. A regulamentação da produção de hidrogênio verde também representaria uma mudança positiva, já que o vetor demanda uma grande quantidade de energia. 

Luiz Eduardo Moraes reitera que a produção de hidrogênio verde demandaria a instalação de novos parques eólicos. “Se o hidrogênio aqui no Ceará começar a acontecer vai precisar de uma quantidade nunca vista de energia. E os parques eólicos têm condições de responder de forma muito boa, em 18 a 24 meses você coloca um parque para fornecer energia”, afirma. 

Fonte: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/com-demissoes-na-aeris-como-esta-a-industria-de-energia-eolica-no-ceara-entenda-1.3511739