Consumidores rurais têm 15% dos mais de 25 GW de potência solar instalada no país por meio de sistemas de geração distribuída
Em maio deve entrar em operação na zona rural de Luis Eduardo Magalhães, polo de produção de soja do oeste baiano, um dos primeiros grandes sistemas de fornecimento de energia solar e armazenamento de grande escala para o agronegócio. A ideia é que a solução abasteça um conjunto de 30 pivôs de irrigação que fornecem água para o cultivo de soja e outras culturas menores. A demanda da fazenda hoje é atendida por uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH).
Com a solução, atendida por energia fotovoltaica, a ideia é triplicar a capacidade e obter certificados de energia renovável, o que pode dar à soja exportada um valor diferenciado em um momento em que as barreiras não alfandegárias crescem. O investimento, feito pela Micropower, não é revelado.
“Hoje a fazenda tem dificuldade de ser atendida pela concessionária local, por uma rede monofásica. Ainda está bastante distante do centro urbano, o que indica alto custo para a distribuidora atendê-la. Isso torna atrativa a opção de uma microrrede com geração descentralizada que propicie estabilidade e fonte renovável “, diz o presidente da Micropower, Sergio Jacobsen.
O executivo irá viajar para o município baiano em 7 de maio, quando o projeto deverá iniciar a sua operação. Terá a companhia de dois fazendeiros locais, que irão observar a estrutura e o modelo de negócios, baseado no investimento feito pela Micropower, que aluga a estrutura em um contrato de dez anos para a fazenda.
A expectativa de Jacobsen é que a empresa poderá fechar mais contratos voltados para o agronegócio, com destaque para a fronteira agrícola do Maranhão, Piauí e Tocantins. Minas Gerais e Goiás também estão entre os outros mercados observados. Na estimativa de Jacobsen, haveria um potencial de 500 MW de contratos que poderiam ser fechados nesse contexto, que combina maior aridez, boa irradiação e necessidade de irrigação contínua. Ele destaca que a maior parte da produção irrigável está no Norte e Nordeste. No restante do país, onde há regime de chuvas mais abundante, o custo de tocar a produção a diesel fica menor.
“As fazendas têm alto consumo de eletricidade, têm de buscar água em profundidades de 300 metros e irrigar suas terras”, diz. Dados de mercado apontam que os consumidores rurais correspondem hoje a cerca de 15% dos mais de 25 GW de potência solar instalada no país por meio de sistemas de geração distribuída. Ao todo, já são 3,6 GW instalados por mais de 200 mil conexões no meio rural.
O campo tem ganho espaço por particularidades, como as grandes distâncias – dezenas, e até centenas de quilômetros das principais zonas urbanas. As distribuidoras têm dificuldades para chegar a essas áreas, com baixa densidade populacional e alto custo de atendimento. Por outro lado, a demanda por sistemas que têm alto consumo energético, como os de irrigação, vem crescendo. Nesse contexto, soluções de geração distribuída solar e armazenamento poderão ganhar impulso, afirma a vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Barbara Rubim.
Além do sol, o potencial do biogás também atrai interesse. Grande produtor de alimentos, o Brasil apresenta um potencial de produção de gás a partir dos resíduos da agropecuária e da agroindústria. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que o país tem potencial técnico para gerar 100 milhões de m3 de biogás por ano. Se todo esse potencial fosse economicamente viável, equivaleria a 25% da demanda energética nacional.