O país não produz comercialmente as células individuais, que são as menores unidades de armazenamento de energia de uma bateria
O país contará, em breve, com um centro de excelência em baterias, onde será aprofundado o conhecimento técnico-científico no campo desse componente essencial aos veículos elétricos ou híbridos. O pontapé inicial para a criação do Centro de Manufatura de Baterias (CMB) se deu após o projeto ter sido selecionado para receber R$ 9 milhões em uma chamada pública de uma das linhas do programa Rota 2030, lançado em 2018 pelo governo federal com o objetivo de estabelecer uma política industrial para o setor automotivo, administrada pela Fundação de Apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (Fundep).
“A ideia é aprender a fazer, obter o know-how para a produção de células individuais de baterias de lítio e sódio”, afirma o físico Hudson Zanin, docente na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp e coordenador geral do projeto, realizado no âmbito do Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro). Atualmente, o país não produz comercialmente as células individuais, que são as menores unidades de armazenamento de energia de uma bateria. Um carro elétrico, por exemplo, pode ter mais de mil células individuais, cada uma de 3-4 volts, dispostas em série e em paralelo.
O pesquisador ressalta que o CMB deverá aprimorar o ecossistema para o desenvolvimento da mobilidade elétrica no país, ampliando tecnologias, treinando recursos humanos especializados e favorecendo a criação de startups. Voltado à pesquisa e ao desenvolvimento na área de ciência de materiais, terá como foco o aperfeiçoamento de processos para manufatura de eletrodos e eletrólitos e a engenharia de células confiáveis e de altas capacidades.
O CMB atuará como um centro multiusuário, com parcerias de empresas e outros institutos de pesquisa, e, uma vez consolidado, funcionará também como um local para manufatura e testes de validação e certificação da segurança das baterias — para uso tanto em veículos elétricos, como em computadores ou celulares. “Queremos ajudar as empresas que tenham interesse em fazer um investimento nessa área. Porque, além de ser muito caro montar uma fábrica, o empreendedor irá concorrer em um mercado extremamente agressivo, dominado pelos chineses”, diz Zanin.
Após a definição do local onde o centro será instalado dentro da Unicamp, serão importadas da Itália máquinas de grande porte que permitirão a manufatura das células cilíndricas. “Uma das máquinas pintará os eletrodos, outra irá compactá-los, outra cortará e enrolará e outra encapsulará tudo, para fechamento apropriado”, detalha Zanin, ressaltando que outros projetos deverão complementar as pesquisas. “Nossa expectativa é que, em dezembro de 2024, o centro esteja operacional”. Nos primeiros anos de atuação, a equipe centrará seus esforços para fazer uma prova de conceito dos serviços oferecidos, com análise da viabilidade técnica e econômica.
Também participam do centro, desde a sua etapa inicial, pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Entre as possíveis empresas parceiras, que já manifestaram interesse pelo CMB, estão Bosch, Toyota, Volkswagen, Raízen, Merck, entre outras. “Elas ofereceram uma carta de apoio e irão acompanhar os resultados de perto”, diz o professor. “Queremos montar um negócio para todos poderem utilizar, não apenas nosso grupo de pesquisa. Tentaremos, ao máximo, não cobrar nada de ninguém, mas os consumíveis importados poderão ter um custo”, afirma o pesquisador, salientando que segue em busca de parcerias, principalmente nos setores automotivo, de tecnologia da informação, comunicação, eletrônica, telecomunicações, petróleo, gás e biocombustíveis e energia e eletricidade.